O cenário de crédito no Brasil e na América Latina passou por profundas transformações desde o início da pandemia de Covid-19. As oscilações da Selic, as mudanças estruturais do sistema financeiro e as novas diretrizes regulatórias criaram um ambiente desafiador e ao mesmo tempo repleto de possibilidades. Este artigo explora o contexto macroeconômico, a dinâmica regional, o comportamento dos consumidores, as principais normas e as oportunidades emergentes.
Para empreendedores, famílias e profissionais do setor financeiro, entender esses movimentos é essencial para aproveitar oportunidades de crescimento sustentável e enfrentar riscos com maior confiança.
Durante 2020, mesmo com a Selic no piso histórico, o crédito não avançou devido à incerteza e à forte retração da atividade econômica. As medidas de isolamento social e a diminuição da demanda ampliaram o receio de inadimplência por parte das instituições financeiras.
Já em 2021, com o início de alta de juros, houve um comportamento surpreendente: as concessões de crédito cresceram de forma firme, sinalizando mudanças estruturais no sistema financeiro. No período de 2022 a 2025, ocorre um claro descolamento entre Selic e crédito.
O crédito com recursos livres acelerou de maneira consistente, registrando crescimento de mais de 150% em relação ao nível pré-pandemia, mesmo com a Selic acima de 13% ao ano. O endividamento das famílias estabilizou-se em patamar elevado, próximo de 80% da renda, mas sem aumento significativo no número de domicílios endividados.
Vários elementos contribuíram para essa dinâmica:
No Brasil, o crédito às famílias liderou o crescimento de concessões entre 2021 e 2024, enquanto o crédito às empresas mostrou ritmo mais moderado. As instituições passaram a emprestar mais valor para as mesmas famílias, sem uma expansão expressiva do número de clientes.
Estudos internacionais indicam que, em 2024, o crédito bancário no Brasil cresceu 11,5%, enquanto a emissão de bônus corporativos aumentou 30%. Contudo, momentos de desaceleração ocorreram devido ao encarecimento da dívida e à desconfiança, especialmente no mercado de capitais e debêntures.
Na América Latina, observa-se maior uso de finanças digitais, mas o acesso ao crédito formal ainda é limitado. Apesar da digitalização, a bancarização permanece incompleta e desigual, com parcelas da população fora do sistema bancário.
Relatórios apontam até 56% de solicitações de crédito rejeitadas no Brasil, criando uma demanda reprimida significativa. Para uma retomada transformadora, serão necessárias taxas de investimento mais altas e maior participação do crédito público e privado em projetos de infraestrutura, energia verde e inclusão digital.
No pós-pandemia, o consumo das famílias mostrou-se menos sensível à variação da Selic. Mesmo com juros elevados, o crédito com recursos livres manteve trajetória ascendente, e a renda disponível sofreu impacto moderado.
As explicações incluem o uso intenso de crédito para reciclar dívidas, trocando empréstimos caros por mais baratos e alongando prazos, e o crescimento de modalidades com garantia, como imóveis e veículos. Além disso, programas de renegociação liberaram renda comprometida, aliviando a pressão financeira das famílias.
Em 2025, entram em vigor diretrizes do Banco Central focadas em reduzir limites de cartão e aumentar a transparência:
Outra inovação é a nova lei de direitos dos clientes de bancos, que estabelece portabilidade salarial automática, reforço de alertas de débitos e envio de opções de crédito mais vantajosas. O Banco Central irá definir regras para um novo produto com juros reduzidos, estimulando a concorrência e democratizando o acesso ao crédito.
A Lei do Crédito nº 15.252/2025 tem foco em reduzir taxas de juros e ampliar a competição. Ela reforça a transparência nas ofertas, exige governança robusta e ajusta regras de cobrança e renegociação. Para empresas exportadoras afetadas por tarifas internacionais, o Plano Brasil Soberano disponibilizou R$ 30 bilhões em linhas emergenciais.
O ambiente de crédito pós-pandemia abre várias janelas de oportunidade. Fintechs e bancos digitais podem acelerar lançamentos de produtos mais transparente, comparáveis e de baixo custo. Cooperativas e instituições locais ganham força ao oferecer soluções personalizadas à baixa renda.
Empresas de todos os portes devem monitorar as mudanças regulatórias, adequar governança e investir em compliance para captar recursos a condições favoráveis. Projetos de infraestrutura verde e transformação digital dependem de financiamento robusto, demandando alianças entre setor público e privado.
Para as famílias, o foco deve ser na educação financeira e na gestão de dívidas, aproveitando programas de renegociação e produtos com garantia. O uso moderado e consciente do crédito, aliado à diversificação de fontes, pode gerar ganhos de longo prazo.
Em suma, o período atual exige agilidade, adaptação e visão estratégica. Com as novas regras, maior competição e avanço tecnológico, o sistema financeiro brasileiro está mais resiliente e apto a financiar o desenvolvimento econômico e social. Desafios persistem, mas as oportunidades são reais e substanciais para quem souber se posicionar.
Seja como consumidor, empresário ou gestor público, compreender esse novo panorama é o primeiro passo para aproveitar o potencial de crescimento que o crédito oferece no Brasil pós-pandemia.
Referências