Em um cenário onde decisões políticas e tensões internacionais ditam o ritmo dos negócios, entender como a geopolítica influencia o mercado é essencial para proteger e otimizar sua carteira de investimentos.
Nas últimas décadas, a geopolítica deixou de ser mero pano de fundo para movimentações de capitais e comércio internacional. Segundo o BBVA Research, o impacto de riscos geopolíticos sobre fenômenos econômicos é “indudable” e requer análise constante.
Fatores como desaceleração do crescimento global, barreiras comerciais crescentes e rivalidade entre potências redefiniram a dinâmica do mercado. KPMG alerta que a combinação de conflito e protecionismo tem efeitos diretos sobre inflação, comércio e fluxos de capital.
Em 2025, o comércio mundial alcançou aproximadamente US$ 35 trilhões, um crescimento nominal de 7% mesmo diante de choques tarifários, segundo a UNCTAD. No entanto, a “qualidade” da globalização mudou, com maior fricção, redirecionamento de fluxos e custos elevados.
Para entender a profundidade dessa influência, é preciso analisar cinco canais principais que conectam decisões políticas a resultados financeiros. O crescimento econômico global desacelerou de 3,6% em 2024 para cerca de 2,6% em 2025, em parte devido às barreiras comerciais e tensões políticas, de acordo com a KPMG e o FMI.
O uso de tarifas e sanções como arma geopolítica pode alterar preços, margens e a competitividade de empresas exportadoras e importadoras. Em 2025, um acordo entre EUA e UE aplicou uma tarifa de 15% sobre 70% das exportações europeias em setores estratégicos, reconfigurando fluxos comerciais.
Estima-se que barreiras tarifárias aumentaram o custo médio do comércio em 1,2 ponto percentual do PIB global em 2025, pressionando indústrias intensivas em matéria-prima e elevando preços ao consumidor.
A pandemia de Covid-19 e a tensão EUA-China expuseram vulnerabilidades das cadeias “just-in-time”. A escassez de semicondutores em 2021 ilustrou como a falta de um único componente pode paralisar linhas de produção.
Em resposta, governos e corporações adotam diversificação de fontes e friendshoring, priorizando fornecedores em países aliados. Essa estratégia elevou em 20% o capital alocado a estoques estratégicos, refletindo aumento de custos e prazo de entrega.
A geopolítica da energia permanece central. Conflitos no Leste Europeu e no Oriente Médio, somados a sanções à Rússia, impactam oferta global de óleo e gás, pressionando preços e alimentando a inflação.
O barril de petróleo Brent chegou a US$ 85 em 2025, enquanto o cobre ultrapassou US$ 10 mil a tonelada, evidenciando choques de oferta. Ao mesmo tempo, a corrida por minerais críticos transforma recursos naturais em instrumentos de poder político.
Observa-se uma preferência crescente por segurança nacional e estratégica acima da eficiência. Exemplo: o CHIPS Act dos EUA destinou US$ 53 bilhões para produção doméstica de semicondutores, reforçando o vínculo entre política industrial e mercados.
Essa tendência tende a sustentar uma inflação estruturalmente mais alta do que na era “Goldilocks” e moderar o crescimento global projetado em torno de 2,8% em 2026 pelo FMI.
Choques geopolíticos elevam a incerteza, amplificando a volatilidade dos mercados acionários e de câmbio. Durante o conflito Israel-Hamas, o VIX oscilou acima de 25 pontos, comparado à média histórica de 18, sinalizando nervosismo entre investidores.
Nesses momentos, há intensa fuga para qualidade e segurança, com migração de recursos para títulos públicos de países desenvolvidos e ativos considerados refúgio.
Cada canal de transmissão exerce efeitos distintos sobre as principais classes de ativos. Entender esses impactos é fundamental para ajustar sua carteira e aproveitar oportunidades surgidas em meio à volatilidade.
Em um ambiente marcado por volatilidade e incertezas, adotar uma postura proativa e flexível pode fazer diferença nos resultados de longo prazo.
Ao compreender as conexões entre geopolítica e mercados, você estará melhor equipado para antecipar riscos e oportunidades, ajustando sua carteira de forma inteligente e resiliente.
Esteja sempre atento aos desdobramentos internacionais e utilize análises aprofundadas para guiar suas decisões. Assim, sua carteira não apenas resistirá aos choques, mas também capturará retornos em meio à transformação do cenário global.
Referências